REVISTA RAÇA BRASIL

TÍTULO: A Dayse de Bamba, do banjo, do Brasil

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Com uma carreira de instrumentista, Dayse do Banjo lança primeiro CD com participação especial de Almir Guineto

POR FERNANDA ALCÂNTARA



O CD de Dayse também tem a participação de Robson Sant'Anna e Newton Motta
Cantora, instrumentista, compositora, mulher e negra. Assim é Dayse do Banjo, artista de renome e longa história no cenário musical do Rio de Janeiro, que há tempos canta e conquista diversas gerações que admiram suas músicas. Com sólida carreira em terras paulistanas e cariocas, Dayse coleciona sucessos e grandes parcerias, que estão presentes no seu primeiro CD homônimo lançado recentemente e já disponível nas lojas.

Suas raízes não negam que ela já nasceu para brilhar. A cantora foi criada na comunidade de Padre Miguel, berço musical de alguns dos maiores sambistas do Brasil e desde pequena já tinha o dom para a música. "Sou filha de um artista erudito, então eu nasci ouvindo música. Com oito anos eu já manuseava o violão e acredito que esta inspiração está no meu DNA", afirmou. Dos seus vários orgulhos, o que mais chama a atenção foi sua expressiva presença no movimento de samba de Cacique de Ramos. "Eu tenho a felicidade de ter participado de um movimento que aconteceu no Rio de Janeiro na década de 80, época em que cheguei a tocar para mais de três mil pessoas", conta ela sobre a agremiação de bambas fluminenses, de onde surgiram, entre outros nomes, Zeca Pagodinho e Almir Guineto.

Depois que conquistou o Cacique de Ramos, Dayse do Banjo resolveu aventurar-se pela passarela do samba. E não parou mais. No início dos anos de 1980, começou a acompanhar, como cavaquinista, os músicos Dominguinhos do Estácio, Neguinho da Beija-Flor e Jorginho do Império. Despediu-se do carnaval carioca em 1990, fazendo a harmonia do cavaco acompanhando no desfile, simplesmente, o mestre Jamelão, da Mangueira. Foi um sucesso. No ano seguinte conquistava, em São Paulo, junto com a Gaviões da Fiel, o título de campeã do carnaval paulista. Fazendo história, foi a primeira mulher a tocar cavaquinho nos desfiles oficiais no Sambódromo do Anhembi, aclamada pela imprensa especializada.

Simultaneamente ao carnaval, Dayse participava do projeto Seis e Meia, no teatro João Caetano, com a responsabilidade de acompanhar divas da nossa música como Dona Ivone Lara e Jovelina Pérola Negra. "Estou em momento especial da minha carreira, em função da maturidade pessoal e profissional. Trabalhei com muita gente importante para a música, mas não tenho um momento do qual eu mais me orgulho. Vivo vários momentos, sempre com intensidade." A inspiração vem do seu padrinho, Almir Guineto, de quem fala com muito carinho. "Acho que todos nós temos mais de uma pessoa em quem se inspirar. Mas posso dizer com certeza que uma das figuras mais importantes para mim, até hoje, é com certeza o padrinho na minha carreira, Almir Guineto. Quando eu o vi tocando banjo pela primeira vez, descobri que era aquele instrumento que eu queria tocar, que era aquilo que eu queria. Almir, por si só, é a própria referência, é só olhar para ele. É voz tão negra falando na nossa carreira", conta Dayse com emoção.

Por muitos anos, Dayse foi cavaquinista de Almir Guineto, que acabou se tornando um parceiro para toda a vida. A prova disso está no trabalho lançado recentemente pela artista, que conta com a participação especial do padrinho. Das 14 faixas do disco, seis contam com participações especiais como Robson Sant'Anna, Newton Motta, Almir Guineto, Cidinha Zanon (também produtora geral) e Luana Carvalho. "Eu e a Cidinha conseguimos chegar a um resultado muito bonito. Quando você faz um trabalho com tanto carinho, cuidado e até um pouco de sacrifício, ele acaba sendo reconhecido naturalmente. Eu tenho muito respeito por quem me ouve, então procuro passar estas emoções quando canto."

O disco conta ainda com releituras de músicas como Receio Amor, primeira parceria de Sombrinha e D. Ivone Lara. O público, segundo Dayse do Banjo, já tem familiaridade com o estilo e gosta das novidades que ela traz. "Faço música há muitos anos, mas o meu trabalho não é para massa, é para o meu público especial. Neste novo trabalho eu coloquei muito carinho e cuidado. Quem ouvi-lo pode perceber que ele traz um repertório com grandes compositores da música brasileira. Este trabalho é resultado de tudo que eu ouvi de bom em todos estes anos."

Para quem ficou com vontade de ver esta lenda da música ao vivo, Dayse se apresenta semanalmente no espaço cultural Traço de União - Casa de Brasilidades, em Pinheiros, com seu repertório que passeia pelo samba, choro e MPB. Na televisão, está presente com a música Arrasta a Sandália, tema da novela Balacobaco da Rede Record, interpretada nas vozes de Jair Rodrigues e Mart'nalia. A música, que também integra o repertório do disco, em parceria com Luana Carvalho, já foi gravada por Beth Carvalho com a participação de Zeca Pagodinho, e concorreu no Prêmio da Música Brasileira de 2012.

Sobre o futuro, Dayse é categórica: prefere viver um dia após o outro, cantando e encantando a todos com sua música. "Os desafios daqui em diante são aqueles diários, pelos quais qualquer pessoa tem que passar. É claro que eu quero poder mostrar esse meu trabalho cada vez mais, divulgar e fazer com que as pessoas ouçam e gostem. Adoro trabalhar e estar nos mais diversos lugares, conhecer novos públicos, e acho que, como cantora, este é o meu desafio particular. É no dia a dia que a gente tem que brilhar."